Isto é que é paixão por Rádios !

30-05-2011 10:59

 Luís: o apaixonado dos rádios

Nome: Manuel Luís Fernandes Simões

Idade: 43 anos.

Naturalidade: S. Victor, Braga.

Residência: Este S. Pedro, Braga.

Profissão: técnico de electrónica.

Paixão: rádios antigos - e é por ter este hobbie que ganhou a alcunha de ‘Luís dos rádios’.

 

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 Quem começa a entrar na casa de Manuel Luís - onde passa uma grande parte do seu tempo livre à volta dos rádios antigos - não imagina a surpresa que o espera: uma colecção de rádios antiquíssima.

São mais de 1800 rádios que Luís Manuel foi coleccionado ao longo de toda a sua vida. Uma paixão que começou desde tenra idade, com o seu pai de criação.
“O meu pai de criação tinha uma oficina de restauros de mobiliário antigo, onde eu passava também uma grande parte do meu tempo a ajudar e onde acabei por aprender a arte”, contou.
“Também nas suas horas vagas, o meu pai de criação se dedicava a coleccionar peças de arte antigas, sobretudo, rádios de várias décadas do século passado. Eu adquiri o mesmo gosto por estas peças e como acabei por ficar com a parte da colecção dele, fui aumentando-a, a pouco e pouco, ano a ano”.

À profissão que Luís Manuel desempenha diariamente enquanto técnico de electrónica numa empresa em Braga, junta-se este seu hobbie que lhe ocupa uma grande parte das horas vagas, recuperando rádios dos anos 20, 30 e 40 do século passado. Para além de se dedicar, ainda, ao restauro de móveis, pianos, relógios de pé alto antigos. “O restauro de móveis antigos é mais uma forma que arranjei para conseguir algum dinheiro extra para comprar os rádios”, disse.
“Muitos destes rádios antigos americanos e europeus (da Alemanha, Checoslováquia e França) vêm do estrangeiro. Às vezes compro aos 20 de uma vez, o que implica um investimento muito avultado. Nem sempre é fácil, mas os amigos ajudam”.

Colecção avaliada em mais de 500 mil euros

A colecção de rádios antigos de Manuel Luís está avaliada em mais de 500 mil euros. Uma pequena fortuna para qualquer empresário, mas para ele de um valor “inestimável”.
“Depois de recuperado, um rádio destes, por exemplo, custa 250 euros, mas pode chegar aos dois mil”, aponta. “Mas muitas vezes não me consigo separar deles. Têm um valor sentimental muito grande”.
A colecção de peças antigas que possui está repartida por três áreas distintas: um armazém, completamente lotado, um espaço de exposição atestado e um atelier onde trabalha que ocupa todo o sótão da sua casa.

Peças raríssimas já foram premiadas

Uma das peças mais emblemáticas que possui é precisamente um rádio de marca ‘Philips Borboleta’.
“Este é um rádio dos anos 40. É um rádio checoslováco e é raríssimo”, refere ‘Luís dos rádios’. Fala com conhecimento de causa, tal como qualquer especialista numa determinada área.
A raridade do aparelho radiofónico já foi atestada inclusivamente em concursos.
“Este rádio já ganhou o primeiro lugar, por duas vezes, no concurso de raridades promovido pela Casa Museu Teixeira Lopes, no Porto”, destacou.
“Eu só fiquei com o título. O dinheiro ficou para o amigo que o levou para o concurso. Temos que ser uns para os outros”.
“Gostava de ver esta colecção num museu”
Um dos sonhos do ‘Luís dos rádios’ é ver um dia a sua colecção exposta num museu para que pudesse ser apreciada por toda a gente. Seria “o Museu dos Rádios de Braga Luís Baptista da Silva”.
“Gostava de ver toda esta colecção num espaço condigno, num museu, que pudesse ser visitado e onde as pessoas tivessem a possibilidade de admirar estas peças”, comentou Manuel Luís. “Mas esse dia, talvez venha a chegar pela mãos dos meus filhos”, disse, referindo que é a eles que deixará todo este património.

Falta de propostas não tem. “Tenho um amigo meu espanhol, de Salzedo, que é um grande empresário e que queria que eu criasse um museu de rádios lá ou em Tui. Não fecho a porta, mas como é óbvio, eu gostaria que fosse em Braga. O meu filho e a minha filha é que irão decidir alguma coisa quando forem maiores”.

Na realidade, este amigo espanhol de Luís já quis, até, comprar-lhe a colecção inteira - mas isso “nem pensar. Nem quero sequer ouvir uma coisa dessas”, afirmou peremptoriamente.
Seja como for, o ‘Luís dos rádios’ não tem dúvidas quanto ao nome que viria a ter esse museu: ‘Luís Baptista da Silva’.

“Gostaria que esse museu dos rádios tivesse o nome do meu falecido pai de criação porque era uma espécie de homenagem que eu lhe faria e que merece por tudo quanto fez por mim”.
Quanto à rentabilidade das visitas, Manuel Luís gostaria de ver as verbas distribuídas por várias instituições de caridade e de solidariedade e nunca em benefício próprio. “Para mim tem um grande valor sentimental”.

Peças raras que atravessam todo o século XX

No espaço que serve de ‘museu’ na sua casa, Luís nomeia algumas das marcas dos rádios antigos dos anos 20, 30, 40 e 50 do século passado, em jeito de apresentação da sua colecção: “este é um Zenith - um rádio americano nos anos 30, tipo catedral. Este é um L.L. francês, dos anos 40. Este aqui é uma peça muito bonita mesmo: é um Excelsior 55. Um rádio francês de 1955. É uma peça fora do vulgar, em forma de leque. Este é um Westing House americano, dos anos 50...”. A lista é enorme.

Luís perde-se no meio dos rádios e aproveita para contar uma série de peripécias que lhe foram acontecendo... por causa da sua colecção de rádios.
“O meu miúdo tinha quatro anos na altura. E havia um rádio capela Philips que eu queria já há alguns anos. É uma peça que é uma raridade em Portugal e eu sabia onde havia um, na Rua do Cabido. Quando soube que o proprietário o queria vender fui até lá discutir o preço. Pediam-me 600 euros. Eu recusava porque era muito dinheiro. Estive com o meu filho ao colo a discutir o preço até às 04.00 da manhã e acabei por trazer para casa não um, mas dois rádios, por 900 euros. Mas acabou por ser um bom negócio”.

Crianças poderão admirar rádios em breve

“Levanto-me às 05.00 da manhã para ir trabalhar. Depois saio e dedico-me àquilo que eu mais gosto: os rádios. E depois não tenho hora para me deitar. E a noite é sempre melhor para afinar um aparelho porque a atmosfera está mais ‘limpa’”.

Luís tem uma vida preenchida, tal como a maioria das pessoas na fase activa da vida. Com o hobbie gasta dinheiro, perde noites inteiras, mas a paixão é avassaladora.
“Além de ser um vício é uma paixão. E é uma paixão que ultrapassa tudo e todos. Não vou dizer que não tenho certas dificuldades para adquirir certos aparelhos, mas com trabalho, dedicação e, sobretudo, com os amigos, vou conseguindo”.

Compra rádios às dezenas e, às vezes, para compensar os gastos com as encomendas, acaba por adquirir também inúmeras peças de antiquário como pianos, móveis antigos e relógios de pé alto. Peças que vai restaurando para angariar algum dinheiro de maneio para conseguir comprar, ainda, mais rádios. “Eu acho que na vida o que conta não é o dinheiro, mas, sim, fazer-se alguma coisa de que se goste realmente”.

O tempo que demora a reparar um determinado rádio varia muito. “Um aparelho radiofónico é quase como o ser humano, tem cabeça, tronco e membros. Em primeiro lugar é preciso fa-zer uma análise ao aparelho para ver se tem problemas ou não ao nível da amplificação ou da alta frequência, por exemplo. Às vezes pode demorar 10 minutos, outras vezes, pode demorar uma semana inteira”.

Mas mesmo com o recurso da sua habilidade para as reparações técnicas destes rádios antigos, Luís aconselha o mínimo de intervenção possível, com a finalidade de os deixar o mais possível fiéis ao original. “Tento pôr o rádio 100 por cento tal e qual é o seu original. Há casos em que consigo os 100 por cento, outras não. Posso dizer que na minha pequena colecção de 1800 rádios, três terços são originais”, garantiu à reporta-gem do ‘Correio do Minho’.

Mas a verdade é que nem sempre consegue vender os apare-lhos que repara. Mesmo que repetidos. “É incrível. Tenho a casa cheia de aparelhos que eram para vender e que nunca consegui vender. Parece que estou também a vender um bocado de mim”, conta.
Neste momento está a braços com um novo projecto para os seus rádios: tornar visitável o espaço de exposição que tem em sua casa para o público infantil.

“Estou a preparar este pequeno armazém para que quem o visitar se possa movimentar à vontade enquanto observa as peças”, refere.
“Gostaria que as crianças das escolas e dos ATL’s (Actividades de Tempos Livres) pudessem aprender também a história da rádio - desde o seu início. Penso que esta seria uma excelente forma de o fazer. Seria engraçado para eles verem como eram os primeiros rádios”, vislumbra.

Apesar das décadas que já volveram desde o aparecimento da rádio, Manuel Luís - o coleccionador de aparelhos radiofónicos antigos - continua, ainda hoje, a considerar ‘a rádio’ como “o melhor órgão de comunicação”. “A rádio é insubstituível. Faz muita companhia às pessoas. A verdade é que, ainda, muita gente por aí fora que não tem televisões e até outros electrodomésticos, mas um rádio, nem que seja a pilhas, de certeza que tem por companhia”.

in: Correio do Minho